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2024-09-18

“Mais do que a explorar, estamos a fazer acontecer”


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Assumiu a responsabilidade como Diretor-Geral da Riopele há dois anos. Com 25 anos de experiência em diversas indústrias, José Teixeira recorda que o principal desafio de integração numa empresa com quase 100 anos foi “ser aceite pela Equipa.”

Agora que já sente bem o pulso do setor têxtil e da Riopele, fala sobre como a sua visão estratégica tem moldado o percurso da empresa, os desafios atuais que a indústria têxtil enfrenta em Portugal e a aposta contínua na sustentabilidade.

Ainda se recorda do seu primeiro dia na Riopele?

Lembro-me bem. Foi um exercício, tipo maratona, para conhecer os processos da Riopele e as Equipas. Foi uma sequência de três dias em que os Diretores e Gestores, com muita paciência, me explicaram os seus processos, como os geriam e mediam. Recordo-me que chegava a casa esgotado pela quantidade de informação e muito motivado pelo desafio. Repetia tudo o que tinha ouvido na minha cabeça e depois, para garantir que pouco me escapava, repetia tudo à minha esposa. O primeiro dia foi fundamental para que me identificasse com a Riopele e com os meus colegas.

Quais os principais desafios que enfrentou ao assumir a liderança de uma das mais antigas empresas têxteis de Portugal?

O principal desafio foi ser aceite pela Equipa. Uma empresa com quase cem anos, a maioria deles com muito sucesso, com uma capacidade industrial ímpar e quadros tecnicamente muito qualificados nos seus processos, tem, com muita naturalidade, dificuldade em entender o que um gestor com carreira em outras indústrias poderá acrescentar. Esse caminho foi árduo, mas desafiador. Ter experiência de 25 anos nas diferentes áreas de indústria, envolver-me no dia a dia da atividade da Riopele e, sobretudo, partilhar a estratégia e resultados com a Equipa, ajudaram nesse percurso.

Nos últimos dois anos, como Diretor Geral da Riopele, quais os marcos mais importantes alcançados pela empresa?

Foram vários, mas como parte de uma Equipa verdadeiramente extraordinária. A Equipa Riopele definiu, de forma clara, uma estratégia até 2027 assente em 3 pilares que hoje todos entendemos e partilhamos. A aposta na rentabilidade, sustentabilidade e nas pessoas, os planos de melhoria que os potenciam. A forma de desdobramento, envolvimento e monitorização tornou-se clara e prática de todos. Assim, e mesmo numa conjuntura altamente volátil, conseguimos de forma consistente bons resultados em todas as áreas. Esta consistência permite-nos um ritmo de investimento singular. Estamos em simultâneo a modernizar o nosso parque de máquinas, as nossas fontes renováveis de energia, a formação dos quadros, sempre garantindo a melhoria das condições de trabalho e sociais das nossas pessoas.

De que forma a sua visão influenciou a estratégia da Riopele?

Acredito que, acima de tudo, deu consistência e método à forma de alcançar as metas da empresa. A excelência dos processos, a mais-valia dos produtos e serviços já eram, há muitos anos, reconhecidos pelos stakeholders da Riopele. A excelência na indústria alcança-se pela definição dos processos e repetição fiável dos mesmos. Acredito que fomentei esses princípios. Da mesma forma, num negócio, é imperativo conhecer os objetivos e que todas as ações contribuam para os alcançar, começando na mais elementar ação operacional que possa existir até ao mais alto nível de decisão. O desdobramento dos objetivos e a ligação de cada ação aos objetivos estratégicos foram, e sempre serão, um foco na minha forma de gerir.

Como avalia a evolução da indústria têxtil portuguesa nos últimos anos?

No geral é um setor que progrediu muito. Os investimentos foram de monta. A automatização, digitalização e a gestão por processos são hoje temas bem enraizados no nosso setor. Os produtos e o seu valor são reconhecidos internacionalmente. As empresas que não fizeram este percurso nos últimos anos, no têxtil como nos demais setores, terão muitas dificuldades em competir. A Riopele manteve-se sempre na vanguarda das melhores práticas industriais fazendo com que hoje os valores dos nossos produtos resultem da excelência dos nossos quadros, da nossa inovação, da sustentabilidade e da performance e qualidade. Transformou-se uma indústria que era de mão de obra intensiva em capital e tecnologia intensiva.

Quais são os maiores desafios que a indústria têxtil em Portugal e a nível global enfrentará nos próximos anos?

Certamente que a capacidade de investimento das empresas do setor na permanente evolução tecnológica dos processos e sistemas e a convergência para as metas de sustentabilidade estabelecidas. É uma indústria que cruzou a passagem para o século XXI com rácios de dívida elevados, o que limita a capacidade de financiamento com custos financeiros razoáveis.

Acresce, na Europa, pela ambição do espaço económico em que estamos, que as metas de sustentabilidade são ambiciosas, mas claramente necessárias, e o ritmo a que as devemos alcançar é muito mais forte do que os demais espaços económicos. A única forma de criar igualdade de competitividade com esses espaços é exigindo as mesmas metas à mesma velocidade. Não se trata de criar barreiras protecionistas por via tributária ou alfandegárias, até porque dessa forma se dá o sinal errado às indústrias europeias, e sim de assegurar igualdade de requisitos para comercializar produtos no espaço europeu, em todas as vertentes ESG.

O resultado da combinação de um volume de negócios crescente, com processos eficientes e produtos inovadores e sustentáveis, asseguraram a rentabilidade das empresas. Dessa forma se poderá ultrapassar o terceiro desafio: o da qualificação permanente e retenção dos recursos humanos no nosso país. Portugal tem todas as condições para o conseguir, a nossa formação de base é de bom nível, as caraterísticas de dedicação do trabalhador português são reconhecidas em todo o mundo. É fundamental entender que a imigração é uma mais-valia que exige um bom acolhimento e integração, processos de legalização competentes que não atirem a população imigrante, essencial para o crescimento da nossa economia e para o equilíbrio demográfico, para a informalidade e, pior, para a marginalidade.

Quais as áreas de inovação tecnológica que a Riopele está a explorar para se manter competitiva no setor têxtil?

Mais do que a explorar, estamos a fazer acontecer. A crescente performance dos nossos produtos, com investimento significativo na investigação e desenvolvimento de novos materiais, a modernização (com foco na automatização) do nosso parque industrial, equipamentos e infraestruturas, e a digitalização de todos os processos. Tudo concorre para reforçar os nossos três pilares estratégicos, a rentabilidade, a sustentabilidade e as nossas pessoas. São dezenas de milhões de euros investidos nos últimos 10 anos.

A inauguração de um dos maiores parques fotovoltaicos de Portugal, em telhado, é um passo significativo. O que representa este projeto para o futuro da Riopele?

Representa o cumprimento estrito das nossas Visão, Missão, Valores e da estratégia que lhe corresponde. A aposta nas fontes de energia renováveis, que proporcionam um custo mais baixo e uma redução da dependência de fatores externos, justificam os investimentos que temos feito. Em 2023, na produção de energia térmica, substituímos em mais de 70% a fonte fóssil por biomassa sobrante da exploração florestal. Na energia elétrica esse caminho começou na década passada, 2018/19, com a instalação do nosso primeiro parque fotovoltaico na Olifil. Este ano, em setembro, iniciamos a produção para autoconsumo da instalação fotovoltaica nos telhados da Riopele B. São mais de 7.700 painéis, em aproximadamente 50.000m2 de coberturas, que produzirão mais de 20% do consumo dessa unidade. Em simultâneo, iniciamos um projeto similar nas coberturas da Riopele A, onde mais de 5.000 painéis fotovoltaicos farão da Riopele autossuficiente em energia elétrica nas horas de luz solar.

Estes investimentos avultados melhorarão a rentabilidade da Riopele, são um passo fundamental para a meta de descarbonização que almejamos, e, com coberturas mais eficientes, melhoramos o conforto e condições de trabalho dos nossos Recursos Humanos.

Olhando para o futuro, qual a perspetiva de crescimento da Riopele no mercado?

Apontamos para um crescimento do volume de negócios de 3 a 5% ao ano. Temos várias ações em curso para o conseguirmos. Aumentar o nosso market share na América do Norte e no Extremo Oriente, duas regiões onde o potencial de crescimento é ainda significativo. Em paralelo estamos a desenvolver o nosso segmento E-motion (mobility) que começa agora a dar os primeiros frutos. Estas duas linhas de ação são as mais ativas no momento, contudo outras já estão em estudo para que o crescimento seja contínuo nesta década e na próxima.